DENIS COSTA

O básico de qualidade de código

15/06/2014

Qualidade de código não é algo opcional (pelo menos não deveria ser). Isso deveria ser um requisito obrigatório em qualquer projeto. Mas por que tem tanto código ruim no mercado? A resposta é simples: É muito difícil escrever código bem feito. Leva-se tempo para aprender a se escrever um bom código. É preciso errar, e sofrer com seus erros para melhorar.

E quando se fala em qualidade de código, estamos falando de um coisa bem ampla. Podemos falar sobre grau de acoplamento, taxa de cobertura de teste e muitas outras coisas. Todas essas podem ser consideradas medidas de qualidade.

Apesar de esse ser um assunto bem vasto, vou abordar uma das partes mais simples, mas que está diretamente ligada à qualidade e que às vezes é esquecida por boa parte dos programadores: A formatação de código. Usar indentação corretamente não faz o seu código menos acoplado ou mais coeso. Mas se você não se atentar a esses pequenos detalhes, o seu código pode virar uma grande bola de neve.

A aparência dos seu código fala muito sobre você como programador. Então neste post vou falar algumas regras simples que uso no dia-a-dia como guia em todos os meus projetos.

1 - Use uma ferramenta de analise estática

Eu particularmente não vejo nenhuma boa razão para não usar ferramentas de análise estática de código em todos os seus projetos. Existem ferramentas open-source para fazer esse tipo de análise em praticamente todas as linguagens mais usadas. flake8 para Python, jshint para Javascript, shellcheck para shell script, csslint para CSS e muitos outras.

Existem também serviços que fazem analise estática e geram ótimos relatórios sobre o seu projeto. Serviços como o Landscape para Python e o Code Climate para Ruby e Javascript (mas eles estão prestes a lançar suporte a PHP e pretendem suportar em breve Coffe Script e Python). Ambos são gratuitos para projetos com repositório público.

Um ponto importante de padrões de formatação de código que são externos à sua equipe, como os feitos por essas ferramentas e serviços, é que eles acabam discussões inúteis de como dever ser formatado o código. Em Python, por exemplo, é abraçar as convenções PEP8 e ser feliz.

2 - Evite linhas longas

Muitos programadores (eu inclusive) não gostam dos limites de tamanho de linha que grande parte das ferramentas de lint impõe. Então é muito comum desabilitar essa verificação.

Mas isso não é motivo para se ter código com 220 caracteres por linhas (já vi isso!). Aí você precisar rolar o editor de texto para o lado para poder ler o código. Isso é inadmissível. Deixe o bom senso ser seu guia, mas defina um tamanho máximo para você e/ou para a sua equipe.

Como eu disse, não gosto muito do limite padrão da maioria das convenções, que é de 79 (ou 80) linhas. Eu acho muito pouco. Então, normalmente uso 119 caracteres como limite de caracteres.

Em python, quando você tem imports longos, como o exemplo abaixo, você você pode agrupá-los, usando parenteses, e assim quebrar as linhas.

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from django.template import Context, RequestContext, loader, Template, TemplateDoesNotExist

Agrupando os imports.

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from django.template import (
    Context, RequestContext,
    loader, Template, TemplateDoesNotExist
)

Você ainda pode usar uma formatação diferente (que por sinal é a formatação original desse código) dependendo da sua preferência e contexto. Mas recomendo que escolha um e mantenha-o.

Esse talvez seja a dica mais simples de seguir. Para ajudar a visualizar os limites de colunas nas linhas, você pode configurar sua IDE/Editor de texto para traçar uma linha mostrando esse limite.

3 - Evite escapar o caractere de fim de linha

O problema anterior pode ser resolvido simplesmente quebrando a linha e escapando o caractere de fim de linha. Mas antes de falar sobre isso, responda a seguinte pergunta: Qual a diferença dos dois códigos a baixo?

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from django.template import Context, RequestContext, \ 
                            loader, Template, TemplateDoesNotExist
1
2
from django.template import Context, RequestContext, \
                            loader, Template, TemplateDoesNotExist

Nenhuma, aparentemente. Mas a maior diferença é que o primeiro código acusa erro de sintaxe e o segundo executa normalmente.

Olhando para os dois código não é possível perceber nenhuma diferença, mas o primeiro tem um espaço depois do escape. Assim, caractere de fim de linha não é mais escapado. Para o interpretador a segunda linhas é um statement novo (e inválido). Por isso recebemos um erro de sintaxe. Um bug chato de achar por que o caractere que causa problema, o espaço, não é visível.

Esse isso deve ser evitado em qualquer linguagem.

Eu sei que você pode configurar seu editor de texto para retirar os espaços no fim das linhas ao salvar o texto. Mas mesmo assim prefiro evitar que esse tipo de coisa aconteça, evitando quebrar linhas assim.

4 - Não misture aspas simples e duplas

Algumas linguagens, como Javascript e Python, aceitam aspas simple e duplas para delimitar strings. Não use essa “feature”!

Eu, particularmente, uso aspas simples sempre que possível (Javascript, Python) e duplas quando necessário (C/C++, Java). Escolha uma e mantenha o padrão em toda a sua base de código.

5 - Evite código desnecessário

Essa regra é bem simples: Quando um código não precisar ser escrito, não o escreva. Vejamos o código abaixo:

def anything(some):
    if some == something_else:
        return True
    else:
        return False

Não existe a necessidade de escrever aquele else. Pois se o código do if for executado, a função retorna e nada mais ali dentro é executado. Sempre que você tiver uma situação assim, escreva dessa forma:

def anything(some):
    if some == something_else:
        return True
    return False

Essa regra pode ser resumida em: “sem else depois de return.”

Mas esse código ainda não está legal. Eu estou fazendo uma verificação booleana para então retornar um booleano. Esse código pode ser melhorado e ficar assim:

def anything(some):
    return some == something_else:

Essas pequenas melhorias, variam de caso para caso, mas mantenha na sua cabeça o mantra: “código que não precisa ser escrito, não deve ser escrito”.

6 - Seja consistente nos retornos das funções

Algumas linguagens dinâmicas, não obrigam o programador a declarar o tipo do retorno das funções. Então, a mesma função pode retornar um array, uma string, ou ainda um float. Evite isso e tenta manter a consistência da API que você está desenvolvendo.

Nos casos de comportamento errôneo é melhor lançar uma exceção. Para informar explícitamente, que aquele comportamento da função não é o caso esperado.

O único caso (que lembrei enquanto escrevia o post) que isso pode ser usado como uma boa solução acho que pode fugir você esteja implementando um método de busca, você pode retorna nulo (None, null, nil, etc. Dependendo da linguagem) para o caso de não achar nenhum elemento durante a busca.

7 - Escreva as regras

Uma coisa que realmente ajuda na manutenção dessas regras é você ter um documento que agregue todas as regras. A Plataformatec tem publicado um belíssimo guideline. Recomendo a todos que leiam.

Conclusões

Essas regras são apenas o início do que vem a ser um código bem escrito. Mas elas não precisam ser seguidas de maneira cega. Use o bom senso. Crie e compartilhe as suas, comente as minhas.

O desenvolvimento de software é uma coisa viva e orgânica, suas premissas e regras também devem ser. Sendo assim eu atualizarei esse post caso me lembre de outra regra.

Abraços

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